'JUNTOS' e a sorte de ter um amor tranquilo
- Samantha Oliveira

- 7 de ago.
- 3 min de leitura
Comédia romântica e uma pitada de desespero: o filme que mistura crises de relacionamento com body horror

Recentemente, li o livro Sintomas: O que aprendi quando o amor me decepcionou, de Marcela Ceribelli. A autora fala sobre um tema comum à vida de muitas mulheres: a dependência, o desgaste e a frustração dentro de relações afetivas, especialmente com homens. Poucos dias depois, assisti a JUNTOS (Together), novo filme da NEON dirigido por Michael Shanks, e percebi um ponto em comum, por mais distintas e distantes sejam as obras: o amor, o desconforto e a transformação, seja ela física ou emocional.
A história traz exatamente o mote citado no primeiro parágrafo: Millie, aqui vivida por Alison Brie, é uma professora que possui um relacionamento de anos com Tim, interpretado por Dave Franco. O rapaz, por sua vez, é o caso já conhecido do homem branco acima dos 30 anos que deseja conquistar o mundo e realizar seus sonhos vívidos de adolescente. Em outras palavras, é um músico frustrado com a própria vida e o relacionamento, mas sem coragem de pôr um fim nisso.
Seria muito simples definir JUNTOS como uma metáfora às relações românticas atuais, já que o longa tem coragem o suficiente de ir ao extremo: seja em piadas ácidas e irônicas proporcionadas pelo roteiro bem construído ou pelo body horror que torna a experiência mais visceral por parte do público e 'conectada' por parte do casal protagonista. Aqui, a namorada que vira mãe do parceiro e a desconexão aparente vão a um outro patamar - ou melhor, descem o nível.
O amor é sobrenatural

Certa vez, durante a faculdade, um amigo me descreveu a sensação de usar LSD e fazer sexo com outra pessoa. Hoje, pelo que lembro do seu relato, JUNTOS seria uma representação visual fiel do que ele me disse. Partindo para o lado sobrenatural e body horror do longa, Millie e Tim passam por cenas ao mesmo tempo hilariantes e agoniantes.
O resultado são partes do corpo, nojeiras e o desconforto sendo transmitidos para quem assiste, ao mesmo tempo daquela risada de desespero e o pensamento "que p*rra estou assistindo?". Tudo isso graficamente bem feito e convincente, ainda bem. Além disso, parte da química - ou a falta dela - durante o longa se deve ao casamento sólido entre os protagonistas na vida real, o que dá um toque a mais nas cenas em que a intimidade precisa se fazer presente.
Também é importante destacar o mérito novamente do roteiro e também da direção com o desenvolvimento do casal. Explico: sabe aquela trend "coisas que você diria no ônibus e na hora do sexo?", JUNTOS é exatamente isso - "coisas que você diria tanto em um filme de terror sobrentural quanto no meio de uma DR". É como se o casal estivesse tentando sobreviver a um monstro, sem saber exatamente quem é ele.
A cereja do bolo, em meio ao caos de corpos, peles e uma declaração de comédia romântica pós-2010 vem com a trilha sonora. Afinal, nada melhor do que uma resolução afetuosa entre o casal principal ao som de '2 Become 1', das Spicy Girls. E esse é o máximo de spoiler que esse texto conterá.
No fim, JUNTOS representa o casamento entre uma romcom moderna e um body horror ousado, e pode até ser perdoado pela cena final que desagrada um pouco. Perfeito para assistir em casal e agoniante na medida certa para os solteiros, o longa é uma daquelas relações que a gente se vê relembrando uma vez ou outra e se perguntando: "o que foi isso mesmo?".
Veredicto: 4/5
















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