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"Bob Marley - One Love" traz narrativa confusa, mas faz boa homenagem ao ídolo do Reggae

O novo filme do diretor Reinaldo Marcus Green não consegue traduzir completamente a importância do cantor para a música



Quase 43 anos após o falecimento de Bob Marley, a histórias sobre a vida de um dos maiores expoentes da música Reggae ainda é cercada por muita potência, mitos e fake news. O fato é que ainda não se tem dimensão do poder do artista tanto para a música quanto para a luta por um mundo igualitário e livre.


O filme Bob Marley - One Love é dirigido por Reinaldo Marcus Green, o mesmo que esteve à frente de King Richard: Criando Campeãs, e conta uma parte da história de Marley. No elenco, Kigsley Ben-Adir, Lashana Lych, James Norton, Tosin Cole, Anthony Welsh, David Kerr, dentre outros atores.


O longa se concentra em narrar uma parte da história de Bob (Kigsley Ben-Adir), especificamente na década de 70 em que a Jamaica vivia uma guerra civil entre grupos políticos opostos. Em meio ao problema, ele viveu conflitos internos e externos em relação a família, com a mulher Rita (Lashana Lych), a música e a relevância da própria imagem.


Das histórias mal contadas



A ideia de fazer um recorte temporal da vida de Bob foi uma decisão muito acertada da produção, principalmente porque a história dele é cheia de bons detalhes para retratar e seguir uma linha temporal poderia fazer com que o filme ficasse cansativa.


Para suprir a necessidade de retratar o passado, que se faz muito presente na vida do cantor, a direção opta por fazer bons flashbacks sobre a infância e juventude do artista. Eles aconteceram de forma pontual, o que não atrapalha o andamento nem mesmo a compreensão sobre o filme.


Apesar disso, o roteiro em si se mostra muito confuso e sem grande profundidade. Não foi mostrado com mais detalhes sobre o sucesso de Bob, do Reggae e como ele se tornou referência para o ritmo. Inclusive, até mesmo o que foi proposto como ponto alto, não se mostrou tão forte como poderia ter sido desenvolvido pela direção. 


A explicação em texto no começo do filme sobre a Guerra Civil na Jamaica não é suficiente para ambientar o filme para o público. O que parece é que o longa foi feito apenas para conhecedores da história do país e os problemas políticos em volta disso. É muito provável que quem for aos cinemas e escolher assistir o longa de última hora, fique perdido.



Desmistificando o Rastafari



A figura Bob Marley poderia ser melhor aproveitada de diversas formas, sobretudo para trazer profundidade maior a esse homem que lutou e cantou tanto pela liberdade e paz para o próprio povo. Mas ainda sim, o que foi mostrado vai emocionar, seja quem já sabe ou não sobre a história dele. 


A relação de Bob e da mulher, Rita, com a religião Rastafari é bastante explorada durante todo o filme. Todos os ensinamentos da crença sobre liberdade e paz moldaram não só o humano Bob, como também influenciaram diretamente na maneira que ele fazia música.


As conversas sobre a religiosidade cumprem um papel importante de desmistificar o Rastafari para o mundo. Mesmo sendo baseada também no cristianismo judaico, o racismo se faz muito presente contra as pessoas que a cultuam, sobretudo porque tem base na Jamaica e Etiópia, países de maioria negra. 


Reforçar a imagem de Bob Marley a religião que tanto mudou a própria vida, e das pessoas ao redor, é mostrar que este homem pacifista visto no filme é também um reflexo do que a doutrina é para as pessoas que a cultuam. Eles deixam evidente que o Rastafari não pode ser resumido em longos dreadlocks e a adoração a um Leão.



Elenco bem afiado



Particularmente quando vi que o Kingsley Ben-Adir iria interpretar Bob Marley, fiquei em completo estado de êxtase e felicidade. O ator é uma das grandes revelações da indústria nos últimos anos, e brilhou em Uma Noite em Miami como Malcom X. E não foi diferente neste filme: ele é o próprio Marley.


Kingsley consegue traduzir com muita delicadeza as questões que atormentaram o cantor na época que sofreu o atentado, ao mesmo tempo mostrou a potência que ele foi em vida para o movimento pela liberdade plena do povo. Ser parecido ou não com Marley não é importante quando você consegue ver todos os trejeitos, as danças, a forma que falava, enfim. O ator conduz muito bem o filme, com maestria, respeito e ferocidade.


Ao lado dele, Lashana Lych provou, mais uma vez, que é também uma das maiores da indústria. Ela deu vida a uma Rita, mulher de Bob, forte, resiliente e tão afetuosa com o marido, apesar das questões conjugais. O filme aborda muito da cumplicidade e amizade entre eles e não necessariamente da relação amorosa. 



E apesar disso, era visível a química e o carinho que um sentia pelo outro traduzido apenas na troca de olhares entre os personagens. Os dois brilharam imensamente e conseguiram não deixar o filme ficar tão monótono. Ver Kingsley e Lashana atuando foi o verdadeiro trunfo disso tudo. Destaque também para a relação do artista com o futebol, que foi muito bem retratada.


Todo o elenco também foi muito bem escolhido e conseguiram fazer um excelente trabalho, sobretudo os integrantes da banda The Wailers e o empresário de Bob, Don Taylor, interpretado por Anthony Welsh. 


Apesar da ausência de uma profundidade maior na história de Bob Marley e da sua trajetória até chegar como o principal expoente do Reggae no mundo, o filme não é completamente ruim. A sensação de que faltou se faz presente quando os letreiros sobem indicando o final, mas pelo menos, você conseguirá conhecer um pouco da história de um dos cantores mais talentosos que passou pela terra.


Veredito: 3/5

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