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Por que precisamos do pão e circo? A importância do futebol em momentos de crise política

Atualizado: 30 de mai. de 2023

A única solução para a Seleção Brasileira é a reeleição de Bolsonaro?


Uma das maiores dúvidas que cercam a humanidade é: o que um time precisa para ganhar um campeonato? A individualidade dos jogadores? Bom condicionamento físico? Psicólogos que tiram o peso dos jogos? Nada disso. Infelizmente essa ideia de qual melhor método para vencer não é válido quando se trata do futebol, um esporte mítico. A França, última campeã da Copa do Mundo, com um elenco tecnicamente excelente e taticamente organizado, já começou o torneio como uma das favoritas à taça depois de uma campanha primorosa nas Eliminatórias, mas com certeza não foram apenas esses dois fatores que a fizeram vencer.


Paralelo a isso, temos o Brasil e seu arranque para iludir os torcedores, com a premissa que irá comprar e ganhar uma Copa. Em retrospecto, o maior jejum enfrentado foi de cinco Copas, entre os títulos de 1970 e 1994. Isso significa que a de 2018 foi a quarta Copa que o Brasil não ganhou, considerando o título de 2002, logo, em 2026 vamos desencantar e finalmente voltar a sorrir em meio a tanto desgosto. Bom, na verdade, não. Esqueçam o que acabei de dizer, nós tentamos colocar um sentido nas coisas simples e esquecemos que a vida não depende apenas disso.


Antes de falar sobre a Seleção, precisamos apontar vários fatos sobre o brasileiro comum, aquele que espera quatro anos para... Largar cedo do trabalho e escovar os dentes com Pitu Cola. Se formos refletir sobre a situação do Brasil em cada época, perceberemos que quando ganhamos, nada está realmente bom nessa terra.


Juscelino Kubitschek e Bellini, capitão da Seleção na copa de 1958, mostram a taça Jules Rimet

Ganhamos a primeira Copa em 1958, com Kubitschek nas suas megalomanias e construindo Brasília, inflação cerca de 24,39% a.a, o Plano de Metas sendo criticado e o país em um processo de industrialização. “Com o brasileiro não há quem possa’’. Essa marchinha foi um sucesso na época, principalmente depois da vitória e a consagração de um negro que foi Rei naquele ano. Essa memória brasileira no mundo fez com que o governo se aproveitasse da situação para continuar o investimento nas grandes obras.


No Bicampeonato em 62 não era só o Brasil que vivia em situação de instabilidade. Todos estavam receosos com uma iminente terceira Guerra Mundial, popularmente conhecida como Guerra Fria. Essa tensão que acometeu o mundo refletiu também no país o clima de incertezas sobre o que viria adiante, sobretudo quando um ano antes ocorreu a renúncia do Presidente Jânio Quadros (aquele que proibiu a rinha de galo). Assumiu então o seu vice, João Goulart, mais conhecido como JANGO (calma, não é Django, esse aqui era branco e brasileiro). Ele não era um político de extrema esquerda, porém era conhecido como um dos maiores comunistas brasileiros. É sério. Os militares acreditavam de fato que o político era comunista, apenas pelo seu interesse em implementar direitos sociais aos trabalhadores brasileiros, que na época sofriam com a desigualdade social no país.


O capitão Carlos Alberto Torres e Emílio Médici exibindo a taça

O Tri veio no momento mais tenebroso da história brasileira, que já convivia com a repressão militar há seis anos e viu nos anos 70 o auge dessas medidas. O AI-5 foi implementado em 1968 e desde então foi instaurado o verdadeiro caos na sociedade brasileira, sobretudo para os militantes, artistas e qualquer pessoa com consciência democrática. A taça coroou a Ditadura Militar como sinônimo de governo próspero, e esse tipo de propaganda ajudou a fortalecer as atrocidades políticas e econômicas que estavam acontecendo no país. O destaque continuou sendo Pelé no auge dos seus 29 anos, fazendo história com o famoso 'gol que Pelé não fez'.


No Tetracampeonato, vínhamos de um jejum de cinco Copas e 24 anos sem nenhum sorriso sincero no rosto para chegar exatamente a este belo momento. E como todos já suspeitavam, o Brasil continuava num grande mar de azar logo após a sua redemocratização. Preciso falar sobre instabilidade política? Vocês sabem de toda história. Estamos falando de Fernando Collor de Mello, mais conhecido como o Caçador de Marajás, conhecido também como ‘Homem que caçava a si e aos seus iguais’. A piada era essa. Depois de denúncias e toda aquela confusão, ele renunciou ao cargo e quem assumiu foi seu vice Itamar Franco. Apesar disso, convivíamos com os desastres do Plano Collor e uma inflação com altos índices. Para completar o círculo, o brasileiro assistiu um dos ídolos do país morrer ao vivo em um domingo de manhã: Ayrton Senna faleceu em um acidente no dia primeiro de maio. A Copa começaria exatamente um mês e 17 dias depois dessa fatalidade, e foi comemorado como uma vitória memorável. Obrigada, Roberto Baggio, você também foi responsável pela reanimação cardíaca do brasileiro!


Fernando Henrique Cardoso levanta taça junto aos jogadores

Chegamos ao Penta, finalmente, para retratar mais uma enfermidade do cenário no Brasil - foram muitas. Mas, para ser sincera, até que esse ano não foi tão mal quanto parece. Fernando Henrique Cardoso estava quase no fim do seu mandato quando nos tornamos o maior campeão do mundo. Não havia instabilidade política, porém vários problemas econômicos de décadas ainda estavam sendo refletidos no Brasil de 2002 e essas complicações atenuaram ainda mais a desigualdade social no país. Haviam projetos que tentavam reanimar a economia brasileira, que estava sofrendo com dívida externa e taxa de desemprego em alta. E, como em todo ano eleitoral, pairava uma tensão no ar sobre quem iria ocupar o cargo e quais medidas seriam tomadas para tirar o país do buraco. Sobretudo porque, de fininho, ocorria a ascensão de um barbudo metalúrgico que falava o que o povo queria ouvir.


Depois desse épico momento de glória não ganhamos mais nada, pelo contrário, foram vexames atrás de vexames. Aliás, vamos ser sinceros, logo após 2002 o Brasil viveu um momento de apogeu, todo mundo era feliz por apenas ser brasileiro e ter dinheiro para comprar qualquer tecnologia barata exportada. Vivíamos a plenitude, a maioria era feliz e se beneficiou a partir daquele momento e o pão e circo sobreviveu à base de antidepressivos e alguns choques do desfibrilador. Abandonado e sem nenhum tipo de credibilidade, ele decidiu largar o país de vez e ir brincar em outros lugares do globo terrestre.


O pão e o circo estavam desolados, sem forças para continuar alegrando uma grande nação que vinha sendo feliz por si só. Prometeu voltar quando visse o desespero em nossos olhos novamente (pelo visto, a dupla está cega desde 2016). Esses dois pilares são importantes no Brasil, que a cada dia que passa nos prova que nasceu para dar errado e não tem vergonha de admitir isso. A felicidade é algo passageiro, e a Seleção Brasileira deixou escapar quatro Copas para realmente entender que precisamos urgentemente de algo para ter esperança, aquela bamba mesmo. Aliás, pra que falarmos de jogadores de futebol se sabemos bem, ao longo desse texto, que a Taça do Mundo é a coroação do quanto o brasileiro consegue sobressair em meio a uma chuva de infortúnios.


De fato, ganhar uma Copa não depende apenas do trio ofensivo, nem mesmo de quem o Neymar vai estar namorando, mas sim de uma série de problemas econômicos, sociais e políticos nos quais o país irá mergulhar sem oportunidade de melhora por alguns anos. E só assim para que os jogadores entendam que precisam nos fazer felizes. Se irá precisar de mais quatro anos do governo atual para que seja atingido o objetivo? Calma. O texto tenta compreender como a situação ruim do país foi ‘benéfica’ para o futebol, e não desejando que a Seleção Brasileira acabe porque o país foi destruído e virou um território anexo de uma Grande Potência.


 

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